Quando digo que sou aluno do meu curso e estudante de muitas outras áreas, inclusive algumas relacionadas ao meu curso, algumas pessoas pensam que estou sendo redundante e logo indagam:

“Aluno e estudante não são a mesma coisa?”

Até pouco tempo atrás eu também pensava que as palavras aluno e estudante significavam a mesma coisa. Mas depois de assistir uma palestra do já falecido professor Pierluiggi Piazzi, que nos deixou em 2015, e posteriormente ter lido seu livro “Aprendendo Inteligência”, obra na qual se baseia a sua apresentação, descobri que essas duas palavras, etimologicamente, não representam a mesma ideia.

A palavra “estudante” é, na verdade, uma flexão da palavra original “estudo”, portanto, ao observar o significado etimológico da palavra “estudante”, é interessante olharmos para a palavra original.

Há, inclusive, diferenças no próprio dicionário:

Vejamos as definições de “estudo” e “aluno” retiradas do dicionário Dicio.com.br

Definição de estudante

Definição de aluno

Quando olhamos para a origem das palavras no latim a diferença fica mais evidente:

“Aluno” vem do latim alumnus que designa “pupilo” ou “filho a cuidado de outro”.

Por este motivo, podemos assumir que o aluno é aquele que assiste aula.

“Estudo” também vem do latim studium, significando “estudo, aplicação”, originalmente “ansioso por fazer algo, sério”.

Toda essa sopa de letrinhas e viajem etimológica é para chegarmos ao que o professor Pier resumiu de forma esplêndida:

“Assistir aula é uma atividade coletiva e passiva. Entretanto, estudar é outra atividade, solitária e ativa.”

Essa percepção foi para mim uma revelação, um véu que caiu do meu rosto, algo que mudaria para sempre meu relacionamento com os estudos, visto que até então eu não era um estudante de fato, apenas alguém que assistia aulas e esperava que por um milagre o conhecimento me fosse dado.

O meu processo pessoal de aprendizagem pode ser descrito em três pilares:

Esforço

Segundo o professor Pier, e corroborado por mim em experiência pessoal, não se aprende nada sem praticar, sem escrever e sem questionar-se o que se tem de conhecimento sobre um assunto, e é por esse motivo que estudar é solitário. É nesse momento onde você anota à mão o que você está compreendendo do assunto. Observe a ênfase sobre a forma dessas anotações: À MÃO, em folha de papel, não por meios digitais.

Existem, inclusive, artigos cientifícos publicados que corroboram essa ideia, mas, no meio científico é comum o não concenso sobre muitos assuntos.

Resumidamente, o estudo ao qual estou me referindo, afirma que realizar anotações à mão é mais eficiente do que anotações em laptops. A controvérsia desse artigo se dá por respostas direcionadas à ele, onde em um desses é dito que, pessoas que fizeram anotações em laptops escreveram mais palavras ouvidas pelo interlocutor e em quantidades maiores do que aquelas que anotaram à mão. Entretando, ao serem expostas a um questionário sobre o assunto, aqueles que anotaram à mão se saíram melhores no geral.

Para encontrar o artigo completo e suas referências, pesquise por:

The Pen Is Mightier Than the Keyboard: Advantages of Longhand Over Laptop Note Taking - PA Mueller

Deixando um pouco de lado a discussão científica do assunto e expondo minha experiência pessoal - que isoladamente não é uma prova científica - eu pude observar que anotar coisas a mão, fazer resumos sobre o que eu estou entendendo do assunto e constantemente utilizar diversos meios para corroborar ou contestar minhas conclusões, fizeram com que eu descobrisse uma nova perspectiva de aprendizado e, sinceramente, nunca mais toquei em cadernos, passando a utilizar somente blocos de papel para realizar minhas anotações deixando-as em minha mesa, olhando para elas diariamente. Posso afirmar com toda certeza que os assuntos aos quais me dediquei dessa forma, permanecem frescos na minha mente. Após adotar tal prática nunca mais me preocupei em “estudar para uma prova” visto que o conhecimento estava solidificado em minha mente e em constante evolução.

Entretanto, o processo de aprendizagem por vezes se torna doloroso, porque estudamos, lemos, fazemos cursos e quando vamos para a hora do “vamos ver”, quando buscamos resolver problemas por conta própria, por vezes nos frustramos, nos sentimos um lixo e alguns desistem por aí, outros persistem e continuam, mesmo que nada pareça dar certo no início e com isso vão aprendendo a superar seus próprios limites. Fábio Akita fala sobre isso como quem disfere um necessário tapa na cara, recomendo a leitura de seus artigos e que assistam aos seus vídeos.

Por vezes eu me dava conta de que o quanto mais aprendo menos eu sei. E isso é mais um fator de atenção durante seu processo de aprendizagem. Você dificilmente vai dominar totalmente um assunto, principalmente na área de tecnologia onde tudo está em constante transformação, mas a prática do que se aprende e a humildade de reconhecer que você será um eterno aprendiz vão te fazer mais capacitado a continuar evoluindo em sua trajetória.

Tempo

O tempo é um fator crucial. Ninguém se torna referência em um assunto da noite para o dia, assim como ninguém se torna Sênior em três meses. Assumindo que você esteja buscando o conhecimento e não ser um repetidor ambulante de informações cuspidas, ou um mero copiador do StackOverflow, o tempo do processo é proporcional ao seu objetivo: quanto maior, mais tempo demanda.

Entretanto, um objetivo muito ambicioso pode e deve ser conquistado em objetivos menores, como quem sobe uma escada atento a cada degrau. Parafraseando uma de minhas referências, o médico Paulo Muzy:

“O que eu sou é resultado daquilo que faço repetidamente. Excelência não é um ato. É um hábito.”

Portanto, tratei de ignorar qualquer tipo de promessa de “aprenda a linguagem de programação X em 6 horas”. Ser um profissional respeitado e gabaritado demanda tempo, assim como grandes diamantes chegam a demorar anos para serem lapidados. Tenha paciência e seja resiliente.

Descanso

Outro ponto fundamental é o descanso. Eu procuro não me estender por noites a fundo em um estudo quando preciso acordar cedo no dia posterior, visto que o sono de qualidade é parte necessária para a solidificação de conhecimentos. Jogar sobre si toneladas de informações sem o devido tratamento dito nos parágrafos anteriores não me parece das melhores estratégias, mesmo que muitas referências modernas no assunto - sim, estou me referindo a alguns “coaches” modernos - digam que você precisa estudar 12 horas por dia se possível, ou então dormir apenas 4 horas por noite para decorar toneladas de conteúdos durante a madrugada.

É óbvio que muitas vezes você vai se ver virando noites ou dormindo até tarde estudando alguma coisa, mas que isso seja pelo prazer de estar compreendendo. Cada indivíduo deve ser capaz de analisar o que é aplicável a sua própria realidade, visto que muitas pessoas logram êxito com estratégias parecidas. Há, inclusive, indivíduos que se habituaram a dormir pouco por diversos motivos, mesmo que tal prática seja enfaticamente desaconselhada.

O lazer é importante. As vezes me pego travado em um assunto o qual não consigo progredir, e quando sinto que estou esgotado, simplesmente abandono o estudo por algum tempo, dou a mim uma dose de distração, que pode ser assistir um filme, passear, ver meu time jogar, jogar alguma coisa, dormir, viajar, ou até mesmo estudar outra coisa completamente diferente, enfim, qualquer atividade que me traga prazer e possa fazer minha mente divagar.

Durante essa divagação é comum que repentinamente uma ideia de solução para o problema apareça, ou quando retorno à ele, percebo que os blocos de informação se encaixam de forma mais fluída e a compreensão que eu buscava é alcançada. As vezes, tudo o que você precisa é desligar um pouco, só toma cuidado para não procrastinar.

Por falar em procrastinação, o único remédio que encontrei contra ela foi a disciplina. Assumir o compromisso comigo mesmo de me dedicar à algum objetivo.

Prefira a disciplina em detrimento da motivação.

Até porque pessoas movidas a surtos motivacionais geralmente não concluem nada.

Em resumo…

Acredito que se alguém deseja realmente estudar e se dedicar virtuosamente a busca por conhecimento, há três pilares a serem observados:

  1. Esforço
    • Estudar de fato, tomar notas, praticar, questionar-se e enfrentar a dor de aprender.
  2. Tempo
    • Aceitar que o aprendizado demanda tempo, aprender a curtir o processo.
  3. Descanso
    • Além de dormir diariamente, pode-se citar aqui também o lazer.

Espero que essas dicas possam ajudá-lo de alguma forma. Não deixem de acessar os links contidos nesse artigo pois eles podem agregar mais ainda.